Eunuquismo e homossexualidade
O ator André di Mauro como o eunuco Hegai na minissérie A história de Ester, exibida pela Record: conotação homossexual evidente.
É consenso que a Bíblia não apresenta o conceito de homossexualidade tal qual o conhecemos. Entretanto, há relances que aludem implicitamente aos homossexuais nas Escrituras. Essa constatação é possível na figura dos eunucos. Não estou afirmando que o eunuquismo e a homossexualidade são termos sinônimos. Esses homens ocupam uma posição especial em Isaías 56, representando a classe dos sexualmente excluídos na Antiga Aliança, entretanto, o profeta os destina a uma promessa grandiosa de inclusão ao povo de Deus.
A figura do eunuco é decisiva nas palavras de Jesus no relato de Mateus 19.12. Visto que o único modelo de casamento da época era heterossexual, é óbvio que Cristo não poderia fazer qualquer referência a relações homoafetivas. A noção de orientação sexual na cultura judaica inexistia, Cristo usou um conceito que para nós seria rudimentar, mas que se relaciona diretamente à homossexualidade. Como assim?
Embora a história ateste alguns casos de relações homossexuais envolvendo eunucos, o conceito geral da Antiguidade Judaica era o de que eunucos não se casavam. Isso se relacionava intimamente à sua função primordial, não única: a guarda das mulheres. Cristo separa muito bem os tipos de eunucos: os de nascença; os feitos pelos homens; e os que se fazem eunucos pelo reino. A nós interessa o primeiro tipo: o eunuco de nascença.
A análise do termo usado por Cristo deve ser feita de acordo com o contexto sociocultural e linguístico da época. Os judeus conheciam dois tipos de eunucos de nascença, chamados especificamente de “eunucos do sol”. Eram assim chamados, pois nunca viram o sol sob outra condição, a não ser a de eunucos. Os eunucos do sol podiam ser homens com problemas congênitos ou homens sem libido (tesão) que os impossibilitava ao casamento com uma mulher.
Segundo o Talmude, tais eunucos se caracterizavam pelos modos frágeis e femininos. Clemente de Alexandria, um dos pais da Igreja (século II), reafirmou que a visão judaica sobre tais eunucos os associava a homens que naturalmente se afastavam das mulheres. Esse “afastar-se naturalmente das mulheres” não indica apenas a falta de libido puramente, mas indica a falta de libido POR MULHERES. O contexto da fala de Jesus é o casamento heterossexual.
O Novo Testamento judaico (Editora Vida) se refere aos eunucos de nascença como homens que nasceram sem o desejo deste casamento, ou seja, entre homem e mulher. Parece-me bastante claro que os eunucos do sol também incluíssem os homossexuais, ou melhor, se refiram a eles já que estes são bem mais numerosos que homens congenitamente incapazes. Sendo assim, a homossexualidade torna-se inata e isenta de pecado.
Conclusão a que muitas igrejas já chegaram oficialmente, como é caso da Igreja Católica. Sabe-se que a homossexualidade pode ter vários fatores em sua constituição, porém, a experiência dos homossexuais a situam ainda na infância, quando não há condição de escolhas sexuais conscientes. Embora a ciência apresente apenas indícios da origem da homossexualidade, o conceito de Cristo é o que deve prevalecer para o cristão homoafetivo.
Como percebemos, Cristo falou sim sobre pessoas homossexuais, não com a mesma complexidade que conhecemos hoje, claro, o mais importante é que ele não atribuiu nenhum caráter pecaminoso à condição sexual de tais pessoas.
Mais detalhes sobre o tema estão disponíveis no livro Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos.
Por Alexandre Feitosa
Fonte: Ministério Teologia Inclusiva
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